Traduzido por Mattia Faustini

A psiquiatria define os neologismos como uma palavra ou frase recentemente inventada e muitas vezes bizarra, ou uma palavra ou frase antiga utilizada de uma forma nova. De acordo com os psiquiatras, inventar neologismos é um sintoma comum entre os esquizofrénicos.

CARDIOSCLEROSE – (Cardia = coração; skleros = duro. Gr.) endurecimento do coração. Incapacidade de sentir simpatia pelos que sofrem.

FREUDIANIDADE – Religião secular contemporânea baseada na crença de que não existe Deus e de que Sigmund Freud é o seu profeta. Mais conhecida como psicanálise, os seus sacerdotes vêem na psicanálise do homem a única solução para o seu complexo de Édipo não resolvido, a sua versão do “pecado original”.

IATROMANIA – (Iatro = Cura; Mania. Gr.) – mania de medicar os outros, quer eles queiram quer não.

IN LOCO DEIS – (em lugar de Deus. Latim) – posição de autoridade divina assumida por um psiquiatra na sua relação com a pessoa designada “louca”.

MENINGERITE – uma inflamação grave dos processos de pensamento comum entre, mas não restrita a, psiquiatras. As pessoas afectadas imaginam que os seus procedimentos pseudo-médicos, chamados “tratamentos”, beneficiam aqueles que são submetidos a eles.

INFALIBILIDADE PSIQUIÁTRICA – a resposta da profissão à Infalibilidade Papal. A principal diferença entre as duas é que, enquanto a Igreja Católica proclama a infalibilidade de apenas um indivíduo, a Associação Americana de Psiquiatria (a Igreja Psiquiátrica) atribui a infalibilidade a todos os seus psiquiatras/membros em situação regular.

PSIQUIATROFILIA – amor pelos psiquiatras. As pessoas afectadas aceitam sem questionar todas as opiniões e conselhos dos psiquiatras que, em reciprocidade e gratidão, os consideram como os únicos membros verdadeiramente sãos da sociedade.

***

Tradução da revista Madness Network News, vol. 1, n. 6 (1972)

Artigo anterior“Louco”, Paul Durcan
Próximo artigo“Um em cada cinco”, Jay Griffiths
Mattia Faustini
Mattia Faustini é pesquisador e doutorando em "Discursos: Cultura, História e Sociedade" na Universidade de Coimbra (CES-UC). A sua formação se desenvolveu de forma transdisciplinar, tendo como seu eixo a relação entre a linguagem e a psicologia. Encontra na literatura e na linguagem poética um recurso para proporcionar cuidado e escuta nas comunidades, realizando oficinas de escrita e leitura dentro bem como fora de serviços psiquiátricos. Procura, assim, gerar espaços criativos e críticos de debate sobre as práticas e as instituições da saúde mental, desenvolvendo intervenções coletivas, em Portugal bem como na Itália, em colaboração com pessoas com experiência de sofrimento psíquico, diagnóstico e sobrevivência.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui