Doutor há uma conspiração para me matarem. Ligo a televisão e recebo ameaças, de políticos e de jornalistas. Já para não falar no apresentador daquele concurso estúpido que toda a gente gosta de ver. Eles falam por códigos por isso só eu é que percebo onde querem chegar! Temo pela própria vida. Por isso estou hoje, nesta madrugada, na urgência deste manicómio. Por favor, Doutor interne-me!
O psiquiatra de serviço, observando o estado perturbado e descompensado do paciente, não teve alternativa. Vai ficar uns dias connosco.
O Jorge, logo adormeceu, depois de tomar a medicação prescrita. No dia seguinte, só lhe apetecia fumar. Cigarros entenda-se. Queria estar isolado dos outros doentes. Que não o podiam compreender. E aliás, os outros eram todos doentes. Ele não! Era perseguido de verdade. E a televisão era uma ameaça que só iria agudizar o seu problema. Por isso, os enfermeiros tiraram a televisão da sala de “chuto”.
No refeitório, era sempre o último a comer. Sempre gostara de mastigar bem a comida. Estava bem-disposto, mas os delírios não passam de uma hora para a outra.
O psiquiatra que lhe fora atribuído, era compreensivo e sabia escutar. E disse ao Jorge, vais ficar bom. Daqui por um mês terás alta.
O Jorge tinha medo que lhe fizessem uma lavagem cerebral, através da medicação. Que de resto o deixava a dormir, quase todo o tempo.
Passada uma semana, vira-se para o psiquiatra e diz-lhe: Doutor, quando tiver alta vou estar a pedir-lhe desculpa e a agradecer-lhe. Sei isso porque me vão alterar a personalidade. Tenho a certeza. Era bom sinal. Estava a reagir. Já não falava nas teorias da conspiração.
Um mês depois, e era o dia da alta. Doutor ganhou a aposta, não lhe peço desculpa nem lhe agradeço. Desejo-lhe uma Santa Páscoa! Diz-lhe o Doutor, não fiz aposta nenhuma!
Podia ser verídico, mas não é. É apenas um conto.